depois de longos beijos no meio do salão, a fatídica pergunta - me dá seu número, vamos nos ver amanhã?
- pra quê - eu penso comigo - pra quê nos ver amanhã?
- anota aí - claro, dou meu celular.
mais um longo beijo e volto para casa sozinha. por eu quis. porque deu preguiça de estar ali com alguém que quer me ver - mas só se for amanhã.
em tempos idos, certamente a falta do celular ajudava.
se agora existe a expectativa de um reencontro, antigamente o encontro era tudo que devia ser:
ali, naquela hora, tudo deveria ser dito, feito e refeito. outro rendez-vous não estava à distância de uma sequência única de algarismos.
desnecessário dizer que o meu celular não tocou.
e isso me dá certo alívio.
amo carnaval.
amo a intensidade, a volatilidade, e todo o romantismo que isso traz.
o telefone celular quebra essa cadeia de elementos lúdicos ligados uns aos outros pela música, a alegria e o tempo restrito dos dias, das horas, do efeito do álcool.
quero viver os carnavais dos séculos passados:
hoje, saio e equeço o celular. não o aparelho, mas meu próprio número.
Um comentário:
Somente após o fatídico segundo cigarro, acometido por uma sensação de querer parecer mais inteligente do que sou, resolvi dizer à vocês, personagem do Ritchie, vodka cara e inimiga do Batman, que da próxima vez, quem sabe não seja o esquecimento do aparelho de telefonia móvel que torne o encontro n'"O" encontro.
Considerando que todas as minhas ligações subseqüentes à beijos tórridos dissipados madrugada afora foram, convenientemente, levadas a nocaute por golpes imprevistos, talvez seja a aparente inabilidade feminina de escolher como parceiro labial alguém que possua mais neurônios do que músculos, pois as sinapses necessárias para fazer uma ligação telefônica no dia seguinte, causam um desconforto físico naqueles que precisam utilizar tais sinapses para respirar ao mesmo tempo.
Óbviamente, sôo como um completo "LOOSER" ao reiterar que infelizmente acredito que a integral culpa de homens agirem como imbecis é das incontáveis mulheres que os acatam em noites de carnaval, exibem seus oito dígitos da sorte como se jogassem na loteria e esperam - mesmo que incógnitamente - receber uma ligação no dia que virá.
Não chegarei ao absurdo de citar John Gray, autor dito Ph.D. no assunto, mas concluo tal filosofia ébria nesta madrugada de quarta-feira apenas congratulando seu blog, sua vívida descrença no sexo masculino, sua persistência literária em personificar a santidade da palavra escrita em uma breve descrição sobre o romantismo perdido dos dias de hoje e com uma célebre frase de um autor que se julga menos inteligente do que é: "Baby, homem não presta. Fato. Nem vocês. Mas aí já é outro tipo de prestar."
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