16 novembro 2008

ânsias

Anseio tanto, tanto
Que o desejo me arrasta
Para uma emboscada
Antes que eu consiga encostá-lo um dedo
Ou sequer mirá-lo nos olhos.
Entrego-me inocentemente
E a agonia da impossibilidade
Embrulha-me o estômago num enjôo doído
De convulsões interiores
Perigos iminentes
Irracionalidades
E lágrimas que se cansaram de cair.

(Além disso,
Tenho um pé que se mexe independente da minha vontade
Até dormindo
A minha insatisfação se manifesta.)

É uma agonia diária
Um desespero sistemático
Uma impaciência que não termina nunca
Um desacordo perpétuo
Um incômodo permanente
Uma sensação de ser inadequada
Que me imobiliza
Me desarma
E me dói.

Eu não sei explicar isso para as outras pessoas.

Parece que falo demais, que reclamo demais, que sou exigente demais, ou mesmo arrogante demais, mas isso vem de uma força maior, cerebral, que apesar de dentro de mim, não consigo controlar sozinha. É impossível, sem me conhecer, que um outro não me ache tranqüila o suficiente para estagnar de bom grado e sem sofrimento algum; acorrentar-me, alegre e solícita, a qualquer pé de mesa de repartição pública, sem mais nada querer além de uma bola de ferro bem pesada que garanta o meu lugarzinho no céu. Meu emprego seguro me lançou um olhar de Medusa e agora estarei ali, petrificada por vinte e cinco anos? Isso me dá ânsias de vômito.

A propósito, o amor também.

Já chego a ter horror dele, o que é bom, porque me ajuda a não me apaixonar mais. Ultimamente, essa fobia de amor me tem sido protetora. É que não sei lidar com ele. Minha ignorância sentimental é infinita. Sou de uma inabilidade a toda prova. E estou certa de ser incompetente para amar quem quer que seja (sem dramas; é a pura constatação da realidade). Não entendo bem o que acontece, qual é o meu defeito fundamental, que não sei me fazer amada – esse é o grande mistério da minha vida! Aliás, permeio uma contradição peculiar: no namoro, quando tento ser boa, pareço ruim, e quando consigo ser ótima, me torno pior ainda. Pelo menos hoje tenho consciência de tudo isso, o que é bom, porque cada nova lapada vem seguida de menos e menos dor. Eu sei que um vai dizer “é assim com todo mundo”. Mas eu já vivi o suficiente para dizer com toda a certeza que “não é não.” Tenho 38 anos e sou completamente só.

As náuseas disparam contra mim.

Escrevi roteiros que nunca vou filmar. Comprei livros que nunca li (será que ainda vou ler?). Gastei dinheiro com roupas que só usei uma vez. Preencho páginas e páginas de documentos do Word que não publico. Tenho tintas, telas, pincéis, lápis, um bom traço, mas não me dedico a pintar. Crio idéias e teses que que não se tornarão um mestrado. O inconformismo esbarra na falta de disposição para tudo e assim... Paro.

Estou com insônia de novo. Acho que a noite vai ser longa. E minhas ânsias, intermináveis.

(por Wyborowa)

2 comentários:

popfabi disse...

garota, eu tou aqui.
câmbio...
beijo

Princess Deluxxe disse...

amiga, é tempo de trovoada. tempo de aproveitar o cheiro da terra molhada. e se aquietar, pra recuperar algumas certezas. mas em pouco tempo vem o arco-íris. e tudo pode ser diferente. pense nas coisas q vc quer mudar e no q é possível fazer para mudá-las. há de funcionar!
=)