21 outubro 2007

Incômoda

Quando dirijo, torço para não ter ninguém na faixa de pedestres
É que detesto ser aquela que pára o trânsito
Quando sou pedestre, rezo pra chegar na faixa e não ter carro nenhum
É que fico péssima de parar 2, 3 carros pra eu atravessar

Me apresso no caixa do mercado
É que fico constrangida de fazer a outra pessoa esperar eu pegar a carteira, o cartão, arrumar os saquinhos...vou fazendo tudo de uma vez, pra não atrapalhar

Chego mais cedo sempre
Não consigo pensar em alguém me esperando chegar por 2, 3 minutos sequer

Tenho uma dificuldade enorme de pedir favores, ajuda, um help qualquer
Fico vermelha só de pensar na situação de ter alguém esperando por mim

E não ligo nem para os melhores amigos sequer pra pegar um cinema
Temendo um momento errado ou ser indesejada por um motivo qualquer

Subo as escadas do prédio com os tamancos na mão
Detesto pensar que fui eu que acordei a vizinha insone

Minha porta não range, minha chave, eu dou uma volta só
Pra ser rápida, silenciosa, invisível

Estaciono meu carro apertado nas vagas
Pra sobrar lugar pro próximo que ainda virá

Espero os outros se servirem
E minto que estou sem fome
Se vejo pouca comida
E muita gente

Num grupo de pessoas
Tombo sempre pro lado com menos adeptos
Na esperança de criar com eles, um elo qualquer

Me anulo
Me antecipo
Me isolo
Porque acho que incomodo

E à noite no escuro, sozinha no quarto
Me pergunto se alguém
Faz isso por mim também

(escrito por Erva Venenosa)

Um comentário:

Marcya disse...

Faço tudo isso, exatamente dessa forma, e acrescento mais uma: ouço música no fone de ouvido para que ninguém seja obrigado a compartilhar meus gostos e desgostos. Sim, e tenho certeza de que os que fazem como nós, talvez pensando em nós, como nós não são percebidos.