depois de longos beijos no meio do salão, a fatídica pergunta - me dá seu número, vamos nos ver amanhã?
- pra quê - eu penso comigo - pra quê nos ver amanhã?
- anota aí - claro, dou meu celular.
mais um longo beijo e volto para casa sozinha. por eu quis. porque deu preguiça de estar ali com alguém que quer me ver - mas só se for amanhã.
em tempos idos, certamente a falta do celular ajudava.
se agora existe a expectativa de um reencontro, antigamente o encontro era tudo que devia ser:
ali, naquela hora, tudo deveria ser dito, feito e refeito. outro rendez-vous não estava à distância de uma sequência única de algarismos.
desnecessário dizer que o meu celular não tocou.
e isso me dá certo alívio.
amo carnaval.
amo a intensidade, a volatilidade, e todo o romantismo que isso traz.
o telefone celular quebra essa cadeia de elementos lúdicos ligados uns aos outros pela música, a alegria e o tempo restrito dos dias, das horas, do efeito do álcool.
quero viver os carnavais dos séculos passados:
hoje, saio e equeço o celular. não o aparelho, mas meu próprio número.